... O meu cantinho

terça-feira, dezembro 05, 2006

Cinza

Coração esmagado e apertadinho, bem comprimido no peito, face à vida e ao mundo. Na face as lágrimas já não correm e parece que seria menos doloroso se corressem. As mãos tremem e a garganta parece que como um nó bem cego à passagem de ar ou saliva. O mundo parece tal como neste momento está lá fora, bem cinzento, bem tenebroso.

Os olhos fecham e uma só vontade surge, a de dormir intensa e longamente por muito tempo. Uma solidão ENORME. Acho que dormindo a paz será menor do que aquela que paira. Cheiro de morte, morte mental, morte da alma. Vontade de me transcender, de tornar o mundo menos doloroso do que é.

Nada se parece mexer, nada tem vida. Parece-me tudo tão negro, tão adormecido e apenas queria fazer alguma coisa para que tudo mudasse de vez, para poder sentir que existe algo de bom naquilo que perco, nas noites, nos dias, no sono e cabelos que se dissipam. Que existe equilibrio no mundo, nas amizades, nos ambientes.

Que tudo muda, se quiser muito.

Saudade da vitalidade, saudade de um amigo, de companhia, de energia, de vontade, de ti.

sexta-feira, novembro 24, 2006

Sonho com um mundo que não existe.

Na noite chuvosa de ontem, buscava uma sonolência postiça que me preenchesse os vazios da alma, que me atenuasse as batidas do coração, que me estremeciam o corpo. Depois de umas tentativas falhadas fazendo zapping, ouvindo musica ou lendo, entendi que a melhor musica que podia ter era aquela que vinha lá de fora, uma violência atroz.

Vivo numa expectativa constante de me sentir um pouco compensada com aquilo que faço, por vezes pergunto-me quando chegará a bonança, quando deixarei este patamar mediocre, de pessoas e actos mediocres.

Olho para as minhas convicções e nada têm a ver com aquela ambição cega com que me defronto a cada dia. Sonho em viver num mundo em que deixamos de ser narcisistas e egocêntricos. Em que a bonança toma como forma a ajuda gratuita, sem pretender receber nada em troca, pelo menos não meios materiais.

Sonho com um mundo que não existe. Com uma realidade que só nos meus sonhos e ilusões reside.

Tanta coisa que gostava de fazer mas que não faço. Estou contaminada pelo mundo material, por aquele que a cada momento me lembra que não tenho tempo, ou que preciso de algo que me permita ganhar algum dinheiro para construir a minha vida.

Sinto-me supérfula e superficial, convicta mas sem reacção.

terça-feira, novembro 07, 2006

Hoje estou um pouco revoltada ou aborrecida, não sei bem... Nunca sentiram que as pessoas dependem demasiado de vocês? Que parece que o tempo de descanso não rende porque se tem sempre alguém a bater-vos à porta, ou o telefone a tocar, ou alguém incrivelmente desesperado ou necessitado de algo que vocês podem dar?? Sim, parece que as ultimas 48horas têm sido assim e estou a passar-me completamente. Ainda n consegui começar a trabalhar porque habituei demasiado mal as pessoas a servi-las sempre. Apetece-me desligar o computador e o telefone e ficar assim por uma semana.

Portugal hoje parece-me sinónimo de caos, de indisciplina, de frieza. Hoje, que regressei há 2 dias da Holanda entendo como para além da familia pouco ou nada me prende. Hoje fico extremamente vazia ao entender que a minha realidade é uma família desordenada e descoordenada, obcecada por dinheiros e castradora de vontades. Entendo que amigos, mais uma vez na vida, são realmente muito poucos ou melhor, que correspondem a relações de extrema inconstancia, em que num verão os vejo e a partir daí todos ficam demasiado atolados nas suas questões quotidianas e existenciais, que desaparecem do mapa. Na realidade acho que sou demasiado independente neste aspecto para que o facto de ter o meu namorado fora não me torne demasiado fragil e necessitada de amizades e encontros animados. Se o fosse, de facto sentir-me-ia muito mal. Sorte a minha que não o sou... ;)

Sinto-me a mudar drásticamente, como que necessitasse apenas de ganhar o meu dinheiro para fazer o que bem entender. Mudar sem ter de me justificar a ninguém. Fazer loucuras, trivialidades ou imoralidades, com o meu dinheiro, com a minha vontade e a minha vida.

Sinto-me cansada de burocracias, de hierarquias e de não poder dar-me ao que quero.

Tou mortinha por sair de casa e ir para longe...

De garganta apertada, me despeço.

Beijos

domingo, outubro 01, 2006

Ai Saudade

É complicado lidar com a saudade, com a certeza de que se hoje a sinto, amanha ou para a semana a sentirei ainda mais. É complicado sentir que nada podemos fazer para que esta passe, a não ser atenuá-la, com milhares de outras coisas que funcionam nada mais nada menos como fugas àquilo que se sente, de forma tão constante.

Todas as manhãs acordo com a cabeça baralhada porque o meu subconsciente viajou demais de noite, fantasiou demais. Buscou-te demais.

Com muita vontade e muita esperança que o templo flua...



A ausência torna o coração mais amante.
(Sexto Aurélio Propércio - Poeta latino - 47/ 15 a.C)

quinta-feira, setembro 21, 2006

Sentimentos Divinos

Por entre montanhas e escarpas entendia como ver uma paisagem tão profunda quanto aquela podia tão intensamente alterar o meu estado de espírito e trazer-me uma paz interior tão forte quanto a inquietude que me consumia a alma naqueles dias de total despreendimento. Alterar cada cor que me pintava a alma. Olhava num silêncio incomodativo o céu, a terra e todos aqueles tons, quentes e frios de sensações e conseguia não pensar em nada como nem durante o sono consigo e o mundo fazia sentido, cada pincelada dos deuses e das forças não terrestres, cada gesto conjulgado entre as sinuosidades e os sopros múltiplos de vento. Era pleno e como se o meu corpo se desfragmentasse sobre o chão em terra e num efeito impressionista e fosse tudo um só corpo, um só conjunto, eu e todo aquele mundo que olhava e absorvia e que me absorvia também, da mesma forma e do mesmo modo.

Se fosse mais crente ou talvez mais dramática diria que ali senti a presença de Deus, claramente. Talvez Ele se tenha esmerado ao criar Trás-os-Montes para que ao passar por lá pudessemos sentir que talvez ele exista...



EN 213 Chaves- Mirandela

segunda-feira, agosto 28, 2006


Encontros e desencontros. Lagrimas e sorrisos. Imensas gargalhadas. Q.b. de compreensão, carinho. Quantidades industriais de amor.

O amor... comanda-nos tanto, faz-nos grandes na alma e insaciáveis de corpo. Torna-nos puros e autênticos, sob um embalar doce, como um palpitar no peito impulsionador de vida e de sentido.

No peito existe tanta paz, após tantos anos de tudo o que constitui aquilo a que a palavra amor se refere. Tanta serenidade que a dor não doi mais, ou se atenuou na certeza da volta e na vontade de prosseguir. A par disto trago um orgulho estampado no rosto, entendendo que a vida me fez crescer tanto e que finalmente transformou a menina frágil que era, meio camuflada pela necessidade de ser alguém, numa mulher verdadeira, de pés bem presos no chão e que isto transformou todo o sentido da minha vida e do meu mundo.

Hoje sinto que não estás cá e que portanto não me posso sentir completa, mas sinto-me feliz. Plena de vida e de garra, com tanta satisfação que o peito dói menos e os meus olhos não choram.

Amo-te.

segunda-feira, agosto 14, 2006

Estados

Não se pode dizer que a vida tem sido madrasta ou que os sonhos nada mais do que sonhos sejam de facto, mas por vezes parece que os sons se calaram e os sentidos se esbateram numa nuvem cinzenta de poeira. Nada de palpável, ou que possa ser nomeado de material, mas profunda no peito, como uma cratera bruta e rude instalada na alma, escondida nos sorrisos que trago e nas palavras vãs que disserto.

A perda é terrível, deixa marcas que parecem eternas e que têm o som do soluçar do meu choro e que se manifestam no nó na garganta, apertado para a saliva e para o ar. É algo que ninguém entende e que cada um sente diferente e que portanto ninguém pode entender.

Saio para a rua obrigada pelo território mais alto do meu corpo que sabe que os sinais depressivos que me atormentam, longe deste tecto se atenuam, como se uma névoa branca anestesiante me percorresse a alma e o corpo, numa camada de esquecimento, fresco.

Sinto um sono imenso mas uma ansiedade que não me deixa dormir, mas forço-me a fazê-lo, de modo a não permanecer muito tempo acordada enquanto aqui estou, numa casa que já senti minha mas que hoje, os sinais do meu território, foram cavados debaixo de um limoeiro, transfigurando cada sinal identificador.

Vivo na esperança do amanhã, na vontade de atingir o estado que todos nomeiam como amanhã, naquela altura em que feridas nada mais são que cicatrizes que se veêm mas que não se sentem, quando a dor não será mais dor e em que retorne a mim, numa vontade intensa de vida.

sexta-feira, junho 30, 2006

Crónicas da 3ª Idade

Sinceramente não me assusta muito a ideia de envelhecer, apesar de todos os dias me defrontar com uma sociedade que claramente previlegia a beleza jovem em detrimento daquela mais madura, em que vejo a cada momento novas publicidades a cremes anti-rugas e aos novos métodos da cirurgia estética. O que me assusta a mim é ver as pessoas mais próximas envelhecer... E não falo de ver fotos com 10 ou 15 anos de existência com o meu pai menos careca ou a minha mãe mais esticada. Falo sim de os ver perder a memória, vitalidade ou coerência.

Olho para a minha avó de 87 anos e por vezes esqueço-me que é um contentor imenso de informação, de experiência. Conseguem imaginar o que se vive durante 87 anos?! Tomara eu um dia chegar a esta idade, mas sinceramente não o quero se chegar sem companhia ou sem saúde. Saúde ela vai conseguindo ter, nos últimos 2 anos resistiu a dois AVCs e a um tumor no colon, sem qualquer tipo de mazelas. Uma saúde que hoje reflete uma vida sem administração de medicamentos e desenvolvimento de muitas defesas imunitárias devido à falta de condições que teve ao longo da sua vida. Companhia perdeu-a muito nova e ainda hoje chora quando me vê sentada de pernas cruzadas à chinês, enquanto diz "O teu avozinho sentava-se sempre assim na cama a ouvir o rádio, naqueles dias em que o tempo não nos deixava ir para o campo"...

Porém é tudo muito complicado quando entendemos que nem tudo passa pela aparência física e pela saúde do corpo e da matéria. Estes anos todos implicam muita teimosia, muita perda de memória e para isto nada mais há que um Noostan ou um Socian para que lhe estimulem a capacidade cerebral. E é disto que tenho receio e medo.

Sentir que a minha mãe e o meu pai estão cada dia mais velhos, tal como eu e que podem perder as capacidades que têm. Se o meu pai nunca conseguirá passar uma tarde sentada no café ou no jardim com uns compadres a jogar uma sueca, a minha mãe é tão semelhante à minha avó! Deve doer sentir que a nossa mãe nos conta todas as semanas as mesmas coisas como se fosse a maior das novidades, que vive dizendo que não dorme nada e que quer tomar comprimidos pa dormir porque todas as amigas do centro de dia também tomam, quando a ouço ressonar todas as noites. Sentir que todos os dias chora porque tem um desequilibrio emocional grande e basta-lhe ver a praça da alegria para se emocionar... É muito duro, e se é duro por vezes é também impossível de aguentar.

Hoje a minha mãe já lhe dá placebos para dormir e ela acha que já dorme bem. Não há um só dia em que alguém perca a paciência com ela porque torna-se uma tarefa muito complicada ouvir algumas barbaridades que diz ou os disparates que faz...

Eu não quero recordar os meus pais assim e tenho medo que a minha mãe um dia que fique sem a minha avó, ao pensar nela se lembre apenas das birras dela para tomar banho. Vai-me assustar o primeiro dia em que a minha mãe não se lembrar do que fez há duas horas atrás ou que conte por duas ou três vezes o que se passou há 20 anos, no dia tal, às mesmas pessoas.

Talvez um dia, quando os meus pais envelhecerem, em vez de lhes dar os tais placebos para que possam descansar lhes dê já um comprimido, não que lhes rejuvenesça a cara ou o corpo, mas a alma, aquela que ainda hoje continuam a negligenciar.